quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quando o povo escolhe.

No nosso tempo, é ao povo que compete a última palavra, até nos regimes ditatoriais. Ceaucescu, Milosevic e tantos ditadores da Europa Ocidental, da América Latina e da Ásia aprenderam-no à custa! A violência que surgiu a partir da base teve origem na sua tirania.Nas democracias, a lei impõe-se e os mandatos têm uma duração limitada. Não há forma de fugir ao julgamento do povo e de tergiversar para escolher o momento mais apropriado. O político sabe que será julgado pelos seus concidadãos e sabe quando isso terá lugar. O único grau de liberdade que lhe resta é o de decidir se vai ou não apresentar-se ou reapresentar-se a sufrágio.


Foi um erro que cometeram Churchill e Kohl, ambos grandes personalidade, um porque resistiu sozinho a Hitler e preparou a sua derrota, o outro porque reunificou a Alemanha sem luta, quase de forma inesperada. Como poderiam eles imaginar a ingratidão dos ingleses e alemães? Justamente por isto: faltou-lhes imaginação.

[…]



Apesar de recusados pelos seus concidadãos, ambos mantiveram o seu prestígio e legaram uma grande imagem. Não foi esse o caso de Gorbatchev, arrastado pela tormenta que ele próprio desencadeou, vítima das instituições democráticas que ele próprio criara demasiado depressa imaginando que o comunismo poderia ser reformado; viu-se obrigado a submeter-se a apresentar-se a sufrágio na pior altura, após a derrocada da união Soviética, que entretanto perdia um terço do seu território e metade da sua população, após o colapso do Estado, quando a sociedade jazia debaixo dos escombros. Também ele já não pode escolher a sua hora e corrigir a situação de que era responsável. A democracia quase não permite decidir qual o momento, a não ser que os prazos se precipitem. O politico tem de se adaptar e, por isso mesmo, não pode que, ao contrariamente ao que imaginam os bajuladores, não é senhor do tempo; terá de afrontar o julgamento do povo, talvez até em condições muito desfavoráveis, numa lotaria arriscada.

Balladur, Eduard, Maquiavel em Democracia, p.165

Sem comentários:

Enviar um comentário